Adrian Verdonck
Memoria apresentada ao Conselho Político do Brasil, 20 de maio de 1630.
Até aqui temos mencionado todos os lugares que se acham sob a jurisdição de Pernambuco, isto é, do Rio S. Francisco até a cidade; agora vamos fallar da mesma cidade, referindo como dentro della se encontra um muito bello, grande e forte convento de Jesuitas; logo junto outro de Capuchinhos e adiante ainda outro chamado de S. Bento, tambem bonito forte e grande...
Tem a mesma cidade de Pernambuco duas igejas parochiaes chamadas do Salvador e de S. Pedro, e ainda outra de nome Misericordia, onde tambem está o hospital, assente sobre um monte no centro da cidade...
Ordinariamente vêm a Pernambuco todos os dias, por terra, de distancias de 1 a 6 milhas, 350 a 400 mouros, antes mais do que menos, todos bem carregados com comestíveis afim de vendel-os para os seus senhores, e isto além das barcas que diariamente chegam ao Recife, de todos os lugares atraz mencionados e ainda de outros, e que tambem trazem mantimentos; todos os dias vão mais de 200 negros a uma ou duas milhas da cidade só a pegar carangueijos, voltando a tarde para casa carregados vendem-nos todos...
Na minha opinião devia haver na cidade de Pernambuco mais de 800 homens e bem 4000 ou mais mouros e ainda outras tantas mulheres e crianças.
Traduzido de Brieven en papieren uit Brazilie por Alfredo de Carvalho e publicado na Revista do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano, nº 54 de 1900
Espaço dedicado à cidade do Recife, ao período do Brasil holandês e ao príncipe Johann Moritz von Nassau-Siegen
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
sábado, 11 de fevereiro de 2012
A Rendição Holandesa
Em 26 de janeiro de 1654, às 23:00 hr, os comandantes holandeses assinaram na Campina do Taborda o termo de rendição de suas tropas bem como a devolução de todas as suas conquistas no Brasil.
Comemorando o feito, o presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano proferiu discurso destacando o significado da data:
...Festejamos, hoje, senhores, um duplo anniversario: o da installação do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano, e o da cessação do ominoso dominio hollandez nesta e em outras provincias do norte do Brasil.
O primeiro -o da fundaçao do Instituto- recorda o esforço de alguns pernambucanos benemeritos que entederam congregar-se em torno do glorioso estandarte das nossas tradições, e conseguiram erigir este templo, onde, durante vinte e cinco annos, temos vindo pagar o tributo de nossa fé civica, fazendo a apotheose do passado e glorificando os que trabalharam e morreram pela patria. O segundo -o da restauração de Pernambuco- recorda a seu turno, a inolvidavel empreza daqueles grandes patriotas do seculo XVII, que de 1630 a 1654, sacrificaram-se dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, na reinvidicção desta terra que lhes haviam usurpado, e despenderam o seus cabedaes, a sua saude, o seu sangue, as suas vidas na elaboração do futuro nacional.
Senhores, depois do dia 7 de setembro de 1822, precedido do dia 6 de março de 1817, não ha para esta provincia outro que mereça ser tão festejado como o 27 de janeiro de 1654.
Não foi, pois, unicamente a nossa provincia que logrou subtrahir-se ao jugo estrangeiro; toda a immensa porção do território, que abrange as provincias da Parahyba, do Rio Grande do Norte, Ceará e da actual das Alagoas até a margem esquerda do Rio S. Francisco, foi redimida comnosco e deve a sua existencia politica de hoje aos inarraveis esforços dos patriotas que a 27 de janeiro de 1654 penetraram n'esta cidade.
27 de janeiro de 1887.
Dr. João José Pinto Junior.
Comemorando o feito, o presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano proferiu discurso destacando o significado da data:
...Festejamos, hoje, senhores, um duplo anniversario: o da installação do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano, e o da cessação do ominoso dominio hollandez nesta e em outras provincias do norte do Brasil.
O primeiro -o da fundaçao do Instituto- recorda o esforço de alguns pernambucanos benemeritos que entederam congregar-se em torno do glorioso estandarte das nossas tradições, e conseguiram erigir este templo, onde, durante vinte e cinco annos, temos vindo pagar o tributo de nossa fé civica, fazendo a apotheose do passado e glorificando os que trabalharam e morreram pela patria. O segundo -o da restauração de Pernambuco- recorda a seu turno, a inolvidavel empreza daqueles grandes patriotas do seculo XVII, que de 1630 a 1654, sacrificaram-se dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, na reinvidicção desta terra que lhes haviam usurpado, e despenderam o seus cabedaes, a sua saude, o seu sangue, as suas vidas na elaboração do futuro nacional.
Senhores, depois do dia 7 de setembro de 1822, precedido do dia 6 de março de 1817, não ha para esta provincia outro que mereça ser tão festejado como o 27 de janeiro de 1654.
Não foi, pois, unicamente a nossa provincia que logrou subtrahir-se ao jugo estrangeiro; toda a immensa porção do território, que abrange as provincias da Parahyba, do Rio Grande do Norte, Ceará e da actual das Alagoas até a margem esquerda do Rio S. Francisco, foi redimida comnosco e deve a sua existencia politica de hoje aos inarraveis esforços dos patriotas que a 27 de janeiro de 1654 penetraram n'esta cidade.
27 de janeiro de 1887.
Dr. João José Pinto Junior.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
A Guerra no Mar
A marinha holandesa era uma das melhores do mundo no século XVII, juntamente com a marinha espanhola e a inglesa. Eram frequentes os embates entre navios holandeses e luso-espanhois na costa brasileira para impedir o desembarque de tropas e o transporte de mercadorias na rota Europa/Brasil/Europa.
Em 1631, o soldado Ambrósio Richshoffer da Cia. das Índias Ocidentais, descreve a chegada de uma esquadra holandesa ao Recife, após uma batalha travada contra forças navais do almirante espanhol D. Antônio Oquendo na altura de Porto Seguro, Bahia:
A 22 de setembro entraram no porto diversos navios da frota do Sr. General Pater. Por eles soubemos que seus 16 navios encontraram a armada espanhola forte de 54 velas [destes apenas 17 eram belonaves], tomando a varonil resolução de bater-se. Para este fim abordou com o seu navio a almiranta espanhola, a qual sofreu tão forte canhoneio que foi a pique. Em compensação o navio do nosso Sr. General incendiou-se e foi ao fundo, salvando-se apenas 4 soldados e 2 marinheiros, perecendo o esforçado herói Sr. General Pater. Não obstante ter morrido o chefe, o nosso Sr. Vice-almirante portou-se como valente guerreiro, metendo a pique a vice-almiranta espanhola e aprisionando o navio do Capitão de Mar.
Ainda assim os navios espanhois afastaram-se dos nossos sem ousarem ataca-los ou persegui-los e os nossos dirigiram-se para aqui. Acham-se na maioria muito avariados, trazem muitos feridos que perderam pernas e braços. O meu camarada e patrício Felippe de Haussen contou-me que era tamanho o ruído produzido pela grossa artilharia e mosquetaria que parecia querer o céu precipitar-se no mar, o que é facilmente crível, pois, do nosso lado perdemos 500 homens e 2 navios. Do lado dos espanhóis morreram mais de 1500 homens, foram ao fundo 3 navios.
Um grande e belo galeão aprisionado pelo Vice-almirante e trazido para aqui estava tão danificado pelas balas que se podia ver através dos dois costados. Os navios estavam por dentro e por fora tão salpicados de carne humana, miolos e sangue, que foi preciso raspá-los com vassouras, o que foi horrível de se ver.
Em 1631, o soldado Ambrósio Richshoffer da Cia. das Índias Ocidentais, descreve a chegada de uma esquadra holandesa ao Recife, após uma batalha travada contra forças navais do almirante espanhol D. Antônio Oquendo na altura de Porto Seguro, Bahia:
A 22 de setembro entraram no porto diversos navios da frota do Sr. General Pater. Por eles soubemos que seus 16 navios encontraram a armada espanhola forte de 54 velas [destes apenas 17 eram belonaves], tomando a varonil resolução de bater-se. Para este fim abordou com o seu navio a almiranta espanhola, a qual sofreu tão forte canhoneio que foi a pique. Em compensação o navio do nosso Sr. General incendiou-se e foi ao fundo, salvando-se apenas 4 soldados e 2 marinheiros, perecendo o esforçado herói Sr. General Pater. Não obstante ter morrido o chefe, o nosso Sr. Vice-almirante portou-se como valente guerreiro, metendo a pique a vice-almiranta espanhola e aprisionando o navio do Capitão de Mar.
Ainda assim os navios espanhois afastaram-se dos nossos sem ousarem ataca-los ou persegui-los e os nossos dirigiram-se para aqui. Acham-se na maioria muito avariados, trazem muitos feridos que perderam pernas e braços. O meu camarada e patrício Felippe de Haussen contou-me que era tamanho o ruído produzido pela grossa artilharia e mosquetaria que parecia querer o céu precipitar-se no mar, o que é facilmente crível, pois, do nosso lado perdemos 500 homens e 2 navios. Do lado dos espanhóis morreram mais de 1500 homens, foram ao fundo 3 navios.
Um grande e belo galeão aprisionado pelo Vice-almirante e trazido para aqui estava tão danificado pelas balas que se podia ver através dos dois costados. Os navios estavam por dentro e por fora tão salpicados de carne humana, miolos e sangue, que foi preciso raspá-los com vassouras, o que foi horrível de se ver.
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