quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Nassau no Recife

Em 1636 os holandeses já estavam no Brasil há sete anos. Haviam conquistado Olinda, Recife, Itamaracá, Rio Grande do Norte, Paraíba, Vila de Nazaré (Cabo de Santo Agostinho), Ilha de Fernando de Noronha, Porto Calvo e Alagoas. Apesar do extenso território, a Cia. das Índias Ocidentais (WIC), que administrava o Brasil holandês, não estava em boa situação financeira. A guerra destruíra boa parte dos engenhos de açúcar e a produção caíra demasiadamente.

A administração, a cargo do Conselho Político, vivia em choque com os comandantes militares e as decisões eram lentas e inexpressivas. Diante das dificuldades, os Estados Gerais, pressionados pelo príncipe Frederik Hendrik, indicam à WIC Maurits von Nassau-Siegen, oficial alemão à serviço da Casa de Orange. Nassau, que construía seu palácio em Haia e precisava de recursos, aceitou a proposta para ser Governador e Capitão Geral de Terra e Mar da Nova Holanda.

Após uma travessia de três meses entre Texel (Holanda), Falmouth (Inglaterra) e Arquipélago de Cabo Verde, a flotilha de 4 navios de Nassau aporta no Recife em 23 de janeiro de 1637.

Seguem trechos da carta de Nassau aos Estados Gerais poucos dias após sua chegada: Aqui cheguei a 23 seguinte, graças a Deus, em boa disposição e juntamente com os demais, e fui recebido com muitas honras, achando o país um dos mais belos do mundo. A situação deste país é extremamente vantajosa e forte, e se Deus nos fizer a graça de pode-lo conquistar inteiramente, não duvidarei que todo o Estado dele tirará uma grande vantagem e serviço.
Maurício, Conde de Nassau
Antônio Vaz de Pernambuco, Brasil
3 de fevereiro de 1637

Maurício de Nassau conseguiu estender o território do Brasil holandês desde o Maranhão até o Rio São Francisco mas, seu maior legado foi a instalação no Recife de uma corte de cientistas, artistas e construtores que deixou sua marca para sempre.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Os Engenheiros do Brasil Holandês

Em 1600, por decisão do príncipe Maurits van Oranje-Nassau, é criada na Universidade de Leiden, Holanda, a Duytsche Mathematique, idealizada pelo matemático Simon Stevin. Era uma escola de caráter técnico-prático, cujo objetivo era a formação de engenheiros militares, agrimensores, mestres em carpintaria, mestres construtores de fortes e vilas, além de técnicos na confecção de mapas e traçados urbanos. Esses homens eram fundamentais para a conquista e desenvolvimento dos mares e territórios que a Holanda procurava dominar em todo mundo.

Com a invasão dos neerlandeses, primeiro em Salvador, entre 1624 e 1625, e depois em Pernambuco, onde dominaram de 1630 até 1654, ficou demonstrado que eles estudavam o litoral norte-nordeste brasileiro há muito tempo, através da cartografia levantada por técnicos e homens do mar. Destacaram-se: Abraham Ortelius (mapa mundi e carta do novo mundo), Isaak Comelin (mapas de Olinda, Cabo de Sto. Agostinho e da Baia de Todos os Santos), Jan Huigen van Linschoten (roteiro de navegação da Europa para os principais portos do Brasil), Dirck Symonsz (carta náutica da costa de Pernambuco), Claes Janzoon Visscher (mapa com frota da invasão de Olinda), Hessel Gerritsz (cartógrafo da WIC com trabalhos sobre a invasão de Salvador e de Pernambuco) e Cornelis Golijath (mapa detalhado do Recife e Olinda, 1648).

Além desses cartógrafos, os neerlandeses utilizaram vários engenheiros para traçar e construir prédios civis e militares no Brasil: Tobias Commersteijn, que veio na frota de invasão e projetou o Forte de Cinco Pontas e Pieter van Bueren, que executou o projeto do forte, além de plantas de Olinda. Andreas Drewisch, Forte do Brum e planta da ilha de Antonio Vaz, e Hendrik van Berchem, engenheiro do Conde de Nassau, morto no ataque a Salvador, 1638.

Os holandeses também utilizaram o serviço de técnicos portugueses como Cristovão Álvares, responsável por obras no Castelo do Mar e na vila de Olinda, e de outras nacionalidades a exemplo do inglês Richard Carr, que construiu o Forte Schoonenborch no Ceará e do francês Pierre Grondeville que traçou planta de Porto Calvo no ataque de Nassau em 1637. Finalmente, não podemos deixar de destacar o alemão Georg Marcgrave, cartógrafo, astrônomo e naturalista que Nassau trouxe para fazer um vasto levantamento das terras, céus, animais e plantas do Brasil holandês.