sábado, 30 de agosto de 2014

W.I.C. III

Willem Usselincx era um mercador de Antuérpia que havia vivido na Espanha e Portugal, testemunhando o trafego de riquezas das colonias para a Europa. Sua ideia era que os Países Baixos fundassem uma empresa que além de promover o comercio com a America, desenvolvesse a colonização no Novo Mundo criando uma Nova Holanda. Além de negociar os metais preciosos já explorados pelos ibéricos, Usselincx projetava incrementar, através dos colonos neerlandeses, a produção de especiarias, madeiras e açúcar.  A base desse projeto era o estado de paz com a Espanha e o livre comércio com outras nações. Ao criar a WIC os Estados Gerais não aprovaram a ideia, pois queriam conquistar as terras americanas dominadas pela Espanha, enfraquecendo seu enorme império.

Tendo sido atraída ao Brasil pela produção de açúcar, a maior do mundo na época, a WIC não entendeu que simplesmente conquistar o país, ou parte dele, não garantiria para si os meios de produção do açúcar. Os engenhos e as plantações de cana eram propriedade dos portugueses que detinham a expertise na fabricação do valioso açúcar. Alguns holandeses chegaram a adquirir engenhos abandonados ou paralisados pela guerra de conquista dos invasores e posterior guerrilha dos luso-brasileiros contra os mercenários da WIC. No entanto, os neerlandeses nunca dominaram o processo produtivo, que sempre ficou nas mãos dos portugueses. A WIC precisava constantemente prover meios (escravos, financiamento, segurança) aos senhores de engenho para que estes mantivessem o fluxo de açúcar para as refinarias de Amsterdam. Quando os preços do açúcar na Europa despencaram e os senhores de engenho endividados se recusaram a saldar seus compromissos com os judeus e a companhia, a guerra de restauração explodiu em Pernambuco.

A Companhia das Índias Ocidentais nunca conseguiu equilibrar suas finanças no Brasil holandês, pois sua política era de conquistar e explorar a conquista, sem pensar em ocupar o território com colonos para desenvolver a agricultura, a indústria ou o comércio e facilitar a manutenção do país sob seu domínio. Esse era o objetivo de Usselincx. Apesar da conquista de vasto território no Brasil, seus maiores feitos em termos de lucro foram o apresamento de navios que transportavam para a Europa os produtos explorados pela Espanha e Portugal: ouro e prata das colônias espanholas e açúcar e madeiras de tinturaria das colônias portuguesas.

Outro ponto diferente entre VOC e WIC era que a primeira dominava pequenas porções de território, como uma cidade, vila, ou apenas uma fortificação, enquanto a WIC tentava manter vastas regiões, como o Nordeste brasileiro. As despesas com a manutenção de navios, fortificações e tropas na conquista era muito além do que a Companhia podia suportar.

Ao contrario da VOC, no oriente, que manteve sempre relações comerciais com os governos daquelas praças, a WIC esteve sempre em pé de guerra no Brasil, mesmo com a trégua decretada em 1640 quando da restauração do trono português através de D. João IV, época do governo de Maurício de Nassau no Recife. 
   


sábado, 23 de agosto de 2014

Construindo o Brasil

Desde o inicio da colonização do Brasil as principais construções executadas pelos portugueses eram de caráter religioso (capelas, igrejas e conventos) e aquelas que visavam a defesa dos núcleos mercantis e de povoamento, como paliçadas, redutos e fortes.

Antes mesmo da fixação dos lusitanos no território descoberto, a preocupação preliminar era o levantamento e descrição das terras e mares através de desenhos e mapas do litoral e das primeiras povoações. Além dos portugueses, franceses, espanhóis, holandeses e ingleses já haviam visitado e mostrado as costas brasileiras em vários documentos.

A cartografia portuguesa dos séculos XVI e XVII é representada por Luis Teixeira e João Teixeira Albernaz (“O Velho” e “O Novo”) com alguns mapas onde aparecem Olinda, Recife, Cabo de Santo Agostinho e Baia de Todos os Santos. Dentre os engenheiros portugueses são conhecidos: Braz da Mata, de Lisboa, que ergueu a abóbada da Matriz de Olinda, Manuel Gonsalves, que fez o traçado de igrejas e conventos em Recife e Ipojuca, Francisco de Frias da Mesquita, engenheiro-mor do Brasil e responsável pela construção do Forte dos Reis Magos, Natal, e o florentino Baccio da Filicaia, que atuou como engenheiro militar e capitão de artilharia em Salvador.

Ao invadirem o Brasil, os holandeses usaram engenheiros portugueses em suas obras como Cristovão Álvares, responsável por obras no Castelo do Mar em Recife, baluartes na paliçada e torre da Matriz em Olinda e no Castelo Keulen (Reis Magos) em Natal.

Após a expulsão dos holandeses em 1654, a maioria dos prédios levantados pelos invasores foi destruído ou descaracterizado para que não houvesse lembrança da passagem dos neerlandeses no Brasil. O Forte de Cinco Pontas, assim conhecido até hoje, foi reformado, e de pentágono passou a quadrilátero.