domingo, 28 de junho de 2015

Como Ancorar no Recife

O porto de Pernambuco está situado a uma légua ao norte da cidade com uma estreita passagem para entrar, pelo que, passado o castelo que está no recife, deve-se virar logo para o sul, encostado às pedras. Estas pedras ou recifes tem o comprimento de uma légua e estendem-se norte-sul, ao longo da costa, nivelados, sendo a largura de oito a dez passos de um extremo a outro, atrás dos quais ficam os navios protegidos como por um dique. Em certos lugares estes recifes erguem-se seis pés acima da água, noutros oito pés, para o norte onde ancoram os navios.

No preamar as águas rebentam por cima em dois ou três pontos e, para o sul, ficam as pedras um ou dois pés debaixo dágua. Na ponta norte dos mesmos, chamada Ponta de Marim, está o pequeno Castelo, mais ou menos à distancia de um arremesso de funda da terra firme, havendo que navegar entre aqueles e esta para chegar ao ancoradouro. O canal é muito estreito quando se vem de fora e a profundidade, mesmo com a maré alta, não passa de 22 pés. Para entrar, corra junto ao Castelo na referida ponta, mas não a menos de um tiro de pedra por causa de três ou quatro escolhos a bombordo. E, a estibordo, há um banco de pedra sobre qual o mar arrebenta até a meia maré, rolando por cima na preamar.

Este banco estende-se ao longo da costa até a ponta de Pernambuco duas milhas para o norte. O mar corre por cima mas poupa mas poupa o castelinho do recife sem lhe causar dano. Uma vez passado este, pique-se a barlavento entre a terra firme e o recife mais perto deste do que de terra por causa do outro banco que está ligado à costa, onde às vezes não há arrebentação. Este banco fica bem em frente ao castelo de terra firme. Passe o mais rente possível junto ao recife, que, sendo a pique, quase permite saltar, mas à distancia de duzentos passos do fortim para o sul, interrompe-se o recife, pelo que convém afastar-se um pouco, navegando-se em seguida ao longo até chegar ao meio do povoado que está a estibordo, em terra firme.

Segure o navio com quatro cordas, à meia amarra, no recife; duas à popa e duas à proa; e lance ancoras do lado da povoação, também à popa e à proa, para permanecer ancorado em posição norte sul por causa da vazante e da cheia.

Esta orientação está no livro Toortse der Zee-Vaert (A Tocha da Navegação) do navegador holandês Dierick Ruyters, publicado em 1623 na cidade de Vlissighen, Zeelandia. Ruyters esteve presente no Brasil em várias ocasiões, inclusive nas invasões de Salvador e Olinda como piloto das frotas da WIC. Seu livro demonstra o vasto conhecimento que os holandeses tinham sobre o Brasil mesmo antes de atacarem-no.

Algumas observações são importantes: a) o porto de Pernambuco, Recife, está ao sul da cidade, Olinda, e não ao norte; b) o pequeno Castelo é o Forte do Mar, sobre os arrecifes; c) o castelo de terra firme é o Forte de São Jorge no istmo entre o Recife e Olinda.